A expressão “depois da tempestade vem a bonança”, de origem bíblica, hoje sem dúvida encerra uma perspectiva habitual, mundana. Laicizou-se. Manteve-se, digamos, a forma, pois a matéria verbal é a mesma, mas já não conserva a referência imaterial de antes. Ou conserva? E no caso contrário: quando a matéria é arrasada, o que resta da essência? Esse dilema, captado por diferentes filosofias e poéticas ao longo da história, ganha contornos territoriais em Modos de construção sobre tapumes.
Os poemas de Gabriela Sobral propõem uma dialética da demolição. Reparo e ruína, levados a cabo em territórios amazônicos, operam neste livro como tijolo e marreta em torno de um personagem central – os tapumes. Objetos de impedimento, erguem-se ao mesmo tempo como instância interventora: modificam espaços e afetam os sujeitos à sua volta, suas memórias, afetos, experiências. Revolvendo as disputas entre conservação e apagamento, a autora provoca poeticamente a ideia de “patrimônio”.
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