. O próprio título é preditivo: os poemas deste livro nascem sob o efeito da violenta perturbação da ordem natural provocada pela humanidade. Quer dizer, isto na melhor das hipóteses, uma vez que o mesmo título carrega uma dolorosa ironia: a essa altura, talvez a fase da mera perturbação já tenha passado, e agora o que resta é a última ilusão antes do fim.
Mas se enganam os leitores que ainda acreditam que temas grandiosos demandam, necessariamente, palavras grandiloquentes. Dia quente de inverno persegue o apocalipse como quem escuta vozes comuns, familiares, e as transcreve de forma ainda mais simples. No abismo entre o grito e o não retorno, a autora persegue também a palavra-primeira; a palavra escutada na música cantada ao nosso redor e transmitida como prenúncio de si mesma. Talvez aí esteja o sopro da sobrevivência que nos permite imaginar outros mundos – entre eles, quem sabe, aquele em que Camilla Loreta escreve um livro intitulado “Dia quente de verão”.